Febre reumática: uma clara ameaça ao futuro
A febre reumática é uma das doenças que mais mata no mundo, uma ameaça ao futuro da humanidade. Tanto por isso, mereceu uma especial atenção da Federação Mundial do Coração, que a colocou no centro das atenções nas celebrações do Dia Mundial do Coração, numa acção conjunta que uniu o MIHER, o Ministério da Saúde e o Instituto do Coração.
Por: Elton Pila (Jornal Zambeze)
Desde 2000, o mundo celebra, a cada 29 de Setembro, o Dia do Coração, uma data consagrada pela Federação Mundial do Coração (FMC), com o objectivo de alertar às pessoas sobre a importância deste órgão vital e alertá-las sobre os riscos das doenças do coração.
Este ano, a Federação Mundial de Coração escalou a capital de Moçambique, Maputo, tendo como pano de fundo, a doença cardíaca reumática, também conhecida como febre reumática, uma das doenças mais fatais em todo o mundo, que pelas condições e seu modo de tratamento, tem deixado sequelas graves em países em via de desenvolvimento, como Moçambique, o que cria grande preocupação para grandes organizações de saúde.
A febre reumática tem, em muitos casos, atacado crianças em idade escolar, podendo alastrar-se para a idade adulta, conforme explicou ao Magazine Independente, Edna Lichucha, médica afecta ao Instituto Nacional da Saúde, que igual ao Mozambican Institute for Health and Educational Research (MIHER), ao Ministério da Saúde (MISAU) e o Instituto do Coração (ICOR), juntou-se à causa da Federação Mundial do coração. “No caso do nosso país, a febre reumática afecta mais crianças em idade escolar, maioritariamente, dos 5 aos 15anos”, explica Lichucha.
Por sua vez, Beatriz Ferreira, do Instituto do Coração, uma instituição de referência no que diz respeito à doenças cardíacas, explica que 3 em cada 100 crianças são vítimas da febre reumática. São números assustadores, visto que esta doença tem sido uma das principais causas de mortalidade infantil.
Outrossim, Edna Lichucha considera que os sintomas da febre reumática são traiçoeiros, o que acaba por prejudicar as sociedades que não tem cultura de procurar um atendimento hospitalar, o que, segundo ela, pode resultar em tragédia. “Depois de atingir o coração, a pessoa pode ficar sempre doente”, explica.
O FMC, MIHER, MISAU e ICOR, por entenderem que “seja de pequeno que se deve torcer o pepino”, defendem campanhas de sensibilização e educação cívica nas unidades de ensino e é com este intuito, que estas visitaram, a 3 de Outubro passado, a “Escola Primária Completa de Matchiki Tchik”, na Cidade de Maputo.
A ideia é criar uma parceria estratégica entre a saúde e a educação, de modo a mitigar os problemas do coração. Beatriz Ferreira, a título de exemplo, explica que a escola é um dos locais crucias para a prevenção de doenças.
Esta é uma das soluções para combater uma doença que encontra terreno fértil nas precárias condições do sistema de saúde moçambicano, disse, lembrando que Moçambique é um dos países mais pobres do mundo.
Mas nem tudo está perdido, visto que, de acordo com a Presidente da Federação Mundial do Coração, Karen Sliwa, o tratamento da doença cardíaca reumática deve ser direccionado, tal como acontece no Instituto do Coração, devido ao nível de sensibilidade que a mesma exige. Para esta, Moçambique é desafiado a sensibilizar a comunidade, partindo da escola.
Karen Sliwa vai mais longe alertando que o país deve estar atento ao desenvolvimento das novas tecnologias, visto que este é o rumo que o mundo segue. “O vídeo é uma forma de ensinar as crianças como prevenir as doenças”, disse.
Segundo a médica do Instituto Nacional de Saúde, Edna Lichucha, o sistema público de saúde moçambicano está cada vez melhor, o que não significa que se deva esquecer da educação sanitária.“Na fase de faringite, temos medicamentos que controlam a infecção. Quando esta se alastra para o coração, o cérebro, os ossos e diversos órgãos, é possível efectuar um tratamento com sucesso”.
Para além de medicamentos em si, Moçambique dispõe de avanços área da cirurgia, que até algum tempo só podiam ser feitas no estrangeiro, como é o caso da África do Sul. “Diversas unidades sanitárias dispõem da capacidade de diagnóstico, mas há unidades sanitárias que efectuam intervenções cirúrgicas”, disse Edna Lichucha.
Um testemunho real
São muitas as pessoas que se juntaram à esta causa, dentre elas, doentes reumáticas que decidiram dedicar a sua vida, sensibilizando as pessoas sobre os perigos dos problemas do coração, como é o caso da febre reumática.
Uma delas é Palmira Matisse, que colocou na sua agenda acções de sensibilização às comunidades, alertando-as sobre os perigos da doença cardíaca reumática.
Doente há mais de 5 anos, Palmira Matisse é líder de um grupo de educadoras, que, neste momento, faz palestras no Hospital de Mavalane, como uma das maneiras de fazer chegar a sua mensagem.
Mavalane é apenas a primeira instituição de saúde abrangida, mas chegar ao hospital não é tudo. Segundo Palmira Matisse, as zonas rurais, por muitos motivos, alguns dos quais, ligados à tradição, tornaram-se as mais vulneráveis, visto que ignoram por completo os sintomas da doença. “Não há conhecimento sobre a doença, principalmente, nas zonas rurais, onde não a assumem”.
Também voluntária é Elisa Simão, de 65 anos de idade, é uma das vítimas da doença cardíaca reumática, há mais de 3 décadas. “Estou fazendo tratamento há 30 anos. Hoje estou bem, mas no princípio foi muito difícil, porque não tive explicações sobre a doença”, explica.
Elisa Simão conta que a sua febre estava num estado bastante avançado, apenas uma intervenção cirúrgica podia aliviá-la. Segundo esta, neste momento, viveu um martírio, sentindo na pele, a dor de ser doente reumática, em Moçambique, um país em via de desenvolvimento.
A solução não podia ser outra senão emigrar, foi assim que Elisa chegou à vizinha África do Sul, depois de um processo que exigia muito de si.“Tive as válvulas destruídas, foi grave para a família, exigia muito dinheiro. Mas fui operada na África do Sul, de lá tenho tido uma vida positiva, graças ao tratamento”, concluiu.